História de Santo Antônio
Um pouco de biografia:
Um pouco de biografia:
Santo Antônio nasceu em Lisboa (Portugal). Não conhecemos a data exata de seu nascimento. Comumente é colocada no ano de 1195. Porém, tanto os historiadores como os anatomistas que, no ano de 1981, analisaram os restos de seu corpo, antecipam de alguns anos, até 1188, a data do seu nascimento. Na pia batismal recebeu o nome de Fernando, que ele mudou para Antônio quando ingressou na Ordem franciscana.. Antônio, em grego, significa “Flor nova”. Por sua incidência religiosa e social, Antônio foi realmente uma flor nova, de grande beleza e fragrância. Seus Pais, Martín de Alonso e Maria, eram de família nobre e bem arranjada. A casa em que nasceu se achava ao lado da catedral. Freqüentou a escola da catedral, onde não só aprendeu a ler, escrever e fazer contas, mas também iniciou-se nas artes liberais do chamado trívio: gramática, retórica e dialética, e do quadrívio: aritmética, música, geometria e astrologia. Todo o ensino era ministrado em latim, que Antônio chegou a dominar perfeitamente, como também chegou a dominar a cultura humanística de Roma e da Grécia. Nos Sermões, o número de citações e referências a flora e a fauna revelam que Antônio gostava também das ciências naturais. Enquanto Antônio embebia seu espírito na sabedoria humana e cristã, sucediam fatos de grande ressonância política e religiosa. As batalhas de Navas (1212) e de Alcázar de Sal (1217) liberavam a Espanha e Portugal do domínio muçulmano. No ano de 1215, realizou-se em Roma o Concílio Lateranense IV, cujas duas finalidades principais eram a reforma da Igreja e a libertação do Santo Sepulcro. A pujante juventude de Antônio, adornada com dons intelectuais e morais, lhe prometia uma boa colheita de louros amorosos e profissionais. Porém, justamente quando se lhe ofereciam de bandeja todos os atrativos mundanos, sentiu em seu interior o chamado para uma entrega plena e generosa ao Senhor. Bateu às portas do mosteiro agostiniano de São Vicente, nas cercanias de Lisboa; porém, ao ver-se assediado por freqüentes visitas de familiares e amigos, pediu transferência para o mosteiro de Santa Cruz, de Coimbra, que era um prestigioso centro de espiritualidade e de cultura, de nível universitário. Ali Antônio pode freqüentar toda a cultura filosófica e teológica da época; sobretudo, se aprofundou na espiritualidade e no contato diário com a Sagrada Escritura e a Patrística. Acerca de sua cultura bíblica, todos os testemunhos o elogiam. Com sua poderosa inteligência, Antônio podia extrair o sentido pleno do texto sagrado, com sua memória tenaz podia recordá-lo, citando, quando queria, livro e capítulo, e com sua capacidade de síntese, conciliá-lo com muitos aspectos da mensagem cristã. Era tão grande a admiração que os contemporâneos tinham pelo conhecimento e da paixão pela Bíblia de Antônio que costumavam dizer que, se se perdessem todos os livros da Sagrada Escritura, teria bastado a memória do Santo para reescrevê-los. Antônio esperava encontrar em Coimbra um mosteiro que fosse um ninho de fraternidade, um oásis de paz e um estímulo para o apostolado; em vez disso, encontrou-se em meio a situações muito turbulentas. As intromissões do rei, que gozava do direito de patronato, e uma série de desordens e de indisciplinas criaram-lhe não poucas tensões. Parece que Antônio, tanto por seu caráter como para dar conta de seus estudos prediletos, se manteve a margem dessas decadências humanas.
Na esteira do Poverello
No ano de 1219 chegaram a Coimbra cinco irmãos franciscanos que dirigiam-se ao Marrocos como missionários. Antônio, como hospedeiro, os acolheu e desde o começo se sentiu tocado pelo exemplo de humildade e pobreza que viu neles. Em 29 de janeiro de 1220, os cinco franciscanos sofreram o martírio e seus despojos foram trazidos, como relíquias, ao mosteiro de Santa Cruz, onde receberam honras solenes. Os ideais missionários e o sangue desses cinco franciscanos foram um chamado profundo ou, melhor, uma inspiração, para Antônio, o qual, desejoso de imitá-los, solicitou permissão para deixar os agostinianos e passar para os franciscanos. Na Ordem Franciscana chegou a ser ministro provincial e também foi o primeiro professor de teologia.
Os sermões
Segundo os estudiosos, os Sermões Dominicais e Festivos são a única obra autêntica da pena de Frei Antônio e, como toda obra leva o cunho de seu autor, trazem a marca de sua personalidade e espiritualidade. Depois de inúmeros estudos e confrontações de códices e citações, finalmente, no ano de 1979 se publicou a edição crítica dos Sermões, em Latim, graças ao árduo labor dos irmãos franciscanos conventuais Benjamín Costa, Leonardo Frassón e Juan Luisetto, com a colaboração de Pablo Morangón. A obra foi editada pelo Mensageiro de Santo Antônio lá de Pádua, Itália. Desde o começo faz-se necessário um esclarecimento. Os Sermões de Santo Antônio quase nada têm a ver com nossos sermões ou homilias; talvez poderíamos sim defini-los como um manual, um prontuário, um tratado, um conglomerado de mensagens bíblicas..., para que os futuros pregadores os assimilassem, os ruminassem e os enfeitassem para o povo. Os temas centrais são os evangelhos dos domingos e festas. Para desenvolvê-los, recorre ao missal e ao breviário. O missal lhe oferece, além do Evangelho, o oremos e a epístola; o breviário lhe oferece os textos do Antigo Testamento. Frei Antônio era um homem metódico e, utilizando estes textos, pode desencadear uma exposição bíblica de amplo repertório e segura eficácia. O texto sagrado é amiúde explicado segundo os quatro sentidos, que gozavam de grande simpatia entre os escolásticos: o sentido literal, o anagógico (em relação a vida eterna), o alegórico e o moral. Os mais desenvolvidos são o alegórico e o moral. Era a mentalidade da época, à qual Antônio se adaptou muito bem. Antônio tinha o nobre propósito de explicar a Bíblia com a Bíblia. Nada mais justo nem mais proveitoso, porque o melhor intérprete de um texto é outro texto ou o contexto, ou a tradição! Este método ajudava muito a iluminar, ampliar e aprofundar o texto. Naturalmente não faltam maneiras um tanto artificiosas para fazer concordar um texto com outro em razão do nome, do lugar, da etimologia, da história... Para respaldar sua interpretação, o santo recorre à grande fonte patrística; e, muito freqüentes, são as citações de Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo, São Gregório, São Bernardo... Igualmente, em temas filosóficos ou morais, recorre a sabedoria da Grécia e de Roma. Para matizar os temas e ampliar horizontes, não deixa, de vez em quando, de recorrer às ciências naturais as quais, apesar de achar-se em seus inícios, constituíam o único acervo científico da época. Em Antônio se pondera um gosto particular pela etimologia que lhe permite, através de interpretações e símbolos, enriquecer seu caudal doutrinal e abrir-se a novas realidades. Seu grande mestre foi Santo Isidoro de Sevilha.
Fins e Temas
Que fins buscava Frei Antônio?
No Prólogo de seus Sermões ele mesmo esclarecer isto. O fim remoto, evidentemente, é a glória de Deus e o bem das almas; o fim próximo, a instrução dos irmãos, aos quais queria brindar uma ajuda para sua conduta espiritual e suas atividades ministeriais. Os mesmos fins temos nós ao publicar aqui os escritos do santo: brindar aos leitores material formativo para sua instrução e animação na vida cristã. Nos Sermões aparece com freqüência a palavra "Glossa". O que era? Era uma coleção ordenada e racional de explicações bíblicas e de sentenças dos Santos Padres. Para os mesmos fins exegéticos, Antônio utiliza as famosas "Sentenças" de Pedro Lombardo, que tanta influência tiveram nos grandes mestres do Século XIII: santo Tomás de Aquino, São Boaventura, e o beato João Duns Scoto... Antônio pregava nas igreja e nas praças para os humildes, os simples, os pobres, os marginalizados, os pecadores. Manifesta preferência pelos temas morais: o homem e Deus, a conversão, a reforma da vida, a confissão, o espírito penitencial, o chamado à santidade, as grandes vivências evangélicas, o seguimento do Senhor, o serviço ao próximo, a fraternidade, a solidariedade... Frei Antônio, com sua experiência de teólogo e de santo, abre a todos os seus ouvintes a torrente da misericórdia do Senhor, a ternura do Menino-Deus, os gemidos amorosos do Senhor crucificado, os encantos virginais de Maria e sua maternal proteção, a companhia e o alento da inumerável multidão dos santos... Que metodologia seguiremos? Procuraremos seguir algumas orientações básicas: antes de tudo, fidelidade ao texto; em seguida, claridade de conceitos; e, finalmente, linguagem o mais possível agradável. Se conseguiremos ou não, deixamos a apreciação dos leitores.
Frei João Mamede
www.omensageiro.org.br/